quarta-feira, 23 de fevereiro de 2000

Alguém te ama

Ó, coração abandonado,
Envolto em trevas e enfado,
As negras nuvens da tua dor
Darão lugar a um lindo amor.

Não há ninguém tão desprezado,
Tão sem amor, tão maltratado,
Que não possua em algum lugar
Um coração que quer lhe amar.

Um coração que também chora,
Que sonha sempre, a toda hora,
Acompanhando a pulsação
Do teu sofrido coração.

E algum dia irão se unir,
E o próprio Sol irá sorrir
Ao ver, de entre tanta dor,
Nascer tão lindo e puro amor.


• © Paddy Ryan • 20 de outubro de 1987 •

Graças a Deus

Tanta coisa me fascina
E alegra o meu viver;
Esta vida me ensina
A sorrir em meu sofrer;
   Agradeço à Deus pela vida.

O amor já me cativa
Transformando o meu viver;
A amargura, tão nociva,
Com um beijo fiz morrer;
   Agradeço à Deus pelo amor.

Tu somente, ó querida,
Me inundas de amor;
Amor da minha vida,
Vida do meu amor,
   Agradeço a Deus por você!


• © Paddy Ryan • 23 de agosto de 1987 •

Cabo!

Sabem da última? Sou Cabo!
Cabo do Exército Brasileiro!
Não tenho certeza se me gabo,
Ou se me lanço inteiro
No poço da auto-piedade.
Agora sou respeitado
Por todos (será verdade?).
Não há nada errado?

Me apertam a mão,
Me dão os parabéns;
Deram um “aumentão”
De uns pobres vinténs;
Só porque mudei de posto?
É tudo encenação;
Sangue e ódio no rosto,
Revolta no coração.


• © Paddy Ryan • 24 de setembro de 1987 •

Só chove em meu coração

Eu sempre quis me apaixonar,
Ser amado e poder amar,
Deixar de vez a solidão ...
Mas só chove em meu coração.

Eu sempre tento esquecer
Dos sonhos que eu vi morrer,
Da falsidade e encenação ...
Mas só chove em meu coração.

Se ao menos eu pudesse ter
A liberdade de escolher;
Mas sou guerreiro da nação,
E só chove em meu coração.


• © Paddy Ryan • 24 de outubro de 1987 •

Não posso chorar

Nas recâmaras da noite
Eu aguardo o dia;
Recebo o vil açoite,
A dor que arrepia,
   Mas não posso chorar.

Sozinho neste sonho,
Fecho os olhos para a paz;
Neste ermo tão medonho,
Ninguém mais é capaz
   De me fazer chorar.

As lágrimas que correm,
Os sonhos que morrem,
As chuvas que cobrem
As almas que sofrem ...
   Nada me faz chorar.

Minhas lágrimas secaram,
Queimadas pelo amor;
Meus lábios calaram,
Escravos da dor;
   E eu não posso chorar.


• © Paddy Ryan • 15 de maio de 1996 •

Homo Sapiens

Eu tampo os olhos da nação,
E acendo a luz que me atacou.
Um gato morde o pobre cão
Que, sem querer, o acordou.
O Sol derrete em minhas mãos,
Mas nem assim quer se apagar;
O Homem mata seus irmãos,
Mas nem por isso quer chorar ...

Mil sentinelas congeladas
Vão ouvir a vã sentença:
A Dor e a Ira, já caladas,
Vão marcar sua presença ....


• © Paddy Ryan • 02 de junho de 1992 •

Saudade

A noite está escura ...
Eu fecho os olhos,
Sinto a dor fria da loucura,
E acordo assustado.
Mas nenhuma mão me segura,
Nenhum olhar me contempla,
Pois minha Flor, linda e pura,
Sonha e sofre no mesmo pesadelo.

A noite está fria,
E eu, sozinho,
Choro de saudades ...


• © Paddy Ryan • 09 de dezembro de 1991 •

Por que as rosas tem espinhos?

Por que as rosas têm espinhos?

   Por que preciso me explicar
   Se nem consigo me entender?
   Por que não posso só amar,
   E esquecer-me de sofrer?
   Por que não posso dar razão
   À voz sutil do coração?

Por que as rosas têm espinhos?


• © Paddy Ryan • 04 de outubro de 1989 •

Prá que sonhar?

Às vezes penso em desistir,
Em aceitar o que há por vir;
Não há razão pra insistir
Se nem me lembro de sorrir.

Havia tempos, eu recordo,
Em que sorria sem motivo;
Mas hoje sonho e sempre acordo;
Sou humildemente altivo.

Pra que sonhar?
Pra que sorrir?
Pra que amar,
Se pressentir
Que somos simplesmente nada,
Uma canção inacabada?


• © Paddy Ryan • 18 de julho de 1989 •

A vaga silhueta da noite

Loucos sonhos me chamando,
Gritos tensos me espantando ...
Meu coração, em chamas,
Duvida que me amas,
Explode, se perde na noite
Temendo o açoite
De um caçador solitário
(Ou de um pobre otário).

Tenho que me controlar ...
Mas como, se ouço o berrar
De ecos perdidos,
A tempos esquecidos,
Que me atingem e lembram
Que os sonhos me espreitam
Na vaga silhueta da noite?

Essa euforia que me domina
É como uma praga sem rima,
Que me engana, confusa,
Se torna difusa,
Se acalma e deita
Enquanto espreita
A vaga silhueta da noite.

Sou o fogo e a brisa,
Sou o altivo que precisa
    De um sincero amor.
Sou o fogo e a brisa,
Sou o fraco que avisa
   Ser um grande sonhador.

Meus sonhos não mais me respeitam.
Os prelúdios tênues do dia espreitam
A vaga silhueta da noite …


• © Paddy Ryan • 11 de junho de 1989 •

terça-feira, 22 de fevereiro de 2000

A Ilusão

Parti em dois meu coração,
Parti o mar da solidão;
Parti sentindo a sensação
De despencar na escuridão ...

E foi em vão.

Voltei, então,
Ouvindo a voz da Ilusão
Que assegurava ter razão,
E prometia uma paixão ...

Foi tudo em vão!

Quem medirá a Ilusão?
   Um lindo sonho num caixão,
      Um grande amor num pobre anão,
      Um pingo d’água num vulcão,
   Um grito ardente de emoção
Vagando solto pela escuridão?

E haverá explicação
   Pra tão concreta Ilusão?
      E o que fizeram da Razão?
         Será que é tudo, sempre, em vão?


• © Paddy Ryan • 27 de maio de 1989 •

Sonhar é preciso

Sonhar é preciso.
Nem sempre é possível sorrir,
Pois a dor que abafa meus sonhos
Me envolve a ponto de eu pressentir
Que os gritos loucos, medonhos,
Que a tempos eu posso ouvir,
Não passam de ecos dos meus sonhos ...

Mas sonhar é preciso,
Mesmo que, quase sempre, meus sonhos se matam
Num meio ponto entre Terra e Céu,
E gestos pequenos, mas infindos, abalam
A confiança deste fraco que sou eu,
Deste ser a quem jamais faltam
Os temores próprios de quem se perdeu.

Sim, sonhar é preciso …


• © Paddy Ryan • 09 de fevereiro de 1989 •

O teu olhar

Eu ouço um grito estremecer
No meio dum terrível mar;
Será que alguém vai perceber
Que a dor engloba cada olhar?

O horizonte é tão imenso,
Mas não suporta o meu chorar;
O meu sorriso, louco e tenso,
Reflete a dor do teu olhar.

Eis aqui meu coração,
Que ainda insiste em sonhar;
Diga-lhe que só a solidão
Entende a dor do teu olhar;
   A dor que irrompe pelo ar,
      Mas não se afasta deste olhar.

A mim,
   enfim,
      o fim…


• © Paddy Ryan • 27 de dezembro de 1988 •

Miragem

Eu vi no meio dum deserto
O caminhar incerto
   Do meu pobre amor.
E caminhava à minha frente
Um desejo demente,
   Fruto do pavor.

Será que nunca irá chover?
Será que nunca irei viver
Os sonhos que eu fiz nascer?

Eu vi também, por todo o lado,
O caminhar ousado
   Duma grande dor.
E caminhava à sua frente
O canto sorridente
   Do seu vil pavor.

Será que sempre irá chover?
Será que sempre irei querer
Os sonhos que eu vi morrer?


• © Paddy Ryan • 02 de novembro de 1988 •

Mar de ilusões

Eu sou navegante,
Um pobre errante
Num mar de ilusões.

Preso nas próprias ciladas que armei,
Penso no brilho do amor que se foi;
Quantas lembranças de sonhos amei ...
Quantas saudades do amor que se foi ...

Eu ouço o choro de alegres canções
Num mar de ilusões;
Eu sinto a dor de mil corações
Num mar,
Um mar de ilusões ...


• © Paddy Ryan • 12 de setembro de 1988 •

Cheiro de medo

O Sol, cansado de nascer
Todo dia, e sempre ver
A mesma coisa, se esconde.
Em algum lugar, não sei onde,
Parece que ouço um berro,
E sinto o cheiro de ferro
Cortando carne, o cheiro
Dum medo louco, altaneiro ...

O Céu, cansado de chorar
O seu desgosto, vai tentar,
Também, se esconder do mundo.
De algum abismo profundo,
Dentre corpos mutilados,
Por séculos conservados
Em sangue, ainda sinto o cheiro
Deste medo louco, altaneiro ...

A Lua, cansada de banhar
Corpos podres com seu brilhar,
Chorando, vai se esconder.
De algum lugar, com vil prazer,
Nadando em sangue (seu e meu),
Querendo o fim (o seu, o meu),
Matando tudo, vem o cheiro
Deste medo louco, altaneiro ...

Por que não posso entender
Este medo? Não quero ter
Que dormir, viver ou sonhar
Com sangue a me atormentar,
Como o orvalho frio,
Como o tenso arrepio
Da morte.

Donde vem este cheiro? Não sei.
Houve um tempo em que pensei
Que soubesse; meu coração,
Uma máquina de solidão,
Criava o medo a meu pedido.
Mas ... meu coração já está perdido
Na morte…


• © Paddy Ryan • 21 de setembro de 1987 •

Só canto na subida

Vou vivendo a minha vida
Sem pensar na dor sofrida;
Vou correndo na descida
E cantando na subida.

Sigo em frente sem parar,
E nem penso em chorar;
Tento, em vão, não tropeçar,
Mas insisto em sonhar.

Sinto o amor da paz querida
Inundando a minha vida;
Não desprezo a dor e a lida,
Mas só canto na subida.


• © Paddy Ryan • 09 de julho de 1988 •

Vivendo a vida ...

Tentar viver
Até morrer
Na imensidão
Da solidão?

Não!

Melhor sorrir
Até sentir
Que mesmo a dor
Produz amor …

Tentar amar
   Sem planejar …
      Poder amar,
         Sem recear …


• © Paddy Ryan • 17 de março de 1988 •

Reter ou soltar?

Explosão,
   Ou implosão?

Explosão,
   Que com razão
      Espalha longe o seu calor,
         E que afasta, sem pesar,
            A amargura, choro e dor,
               Me contagia, me faz amar?

Implosão,
   Que sem razão
      E com sadismo, tão sem fim,
         Só faz meu mundo de amor
            Ruir por terra sobre mim?
               (Nem sei de onde vem a dor…)

   Implosão?
Sou explosão!


• © Paddy Ryan • 28 de agosto de 1987 •

Sonhos

Voa livre, alma minha,
Nunca cesses de sonhar;
Se meu corpo engatinha,
Tu me instigas à voar!

O horizonte me convida,
Até à Lua quero ir;
Toda a vida já vivida
Me impulsiona a subir.

Alto ou baixo, sempre tentas
Loucas coisas descrever;
Penso que só te contentas
Ao poder contradizer.

E eu, confuso, só consigo
Os teus sonhos descrever;
Mas eu penso, cá comigo,
Que um dia irei te entender …


• © Paddy Ryan • 08 de agosto de 1987 •

Lágrimas

Ah, como é gostoso chorar! Quando a angústia tenta acuar, O coração se derrete em lágrimas Rebeldes, insubordinadas, mas legítimas. E é ...