terça-feira, 22 de fevereiro de 2000

Cheiro de medo

O Sol, cansado de nascer
Todo dia, e sempre ver
A mesma coisa, se esconde.
Em algum lugar, não sei onde,
Parece que ouço um berro,
E sinto o cheiro de ferro
Cortando carne, o cheiro
Dum medo louco, altaneiro ...

O Céu, cansado de chorar
O seu desgosto, vai tentar,
Também, se esconder do mundo.
De algum abismo profundo,
Dentre corpos mutilados,
Por séculos conservados
Em sangue, ainda sinto o cheiro
Deste medo louco, altaneiro ...

A Lua, cansada de banhar
Corpos podres com seu brilhar,
Chorando, vai se esconder.
De algum lugar, com vil prazer,
Nadando em sangue (seu e meu),
Querendo o fim (o seu, o meu),
Matando tudo, vem o cheiro
Deste medo louco, altaneiro ...

Por que não posso entender
Este medo? Não quero ter
Que dormir, viver ou sonhar
Com sangue a me atormentar,
Como o orvalho frio,
Como o tenso arrepio
Da morte.

Donde vem este cheiro? Não sei.
Houve um tempo em que pensei
Que soubesse; meu coração,
Uma máquina de solidão,
Criava o medo a meu pedido.
Mas ... meu coração já está perdido
Na morte…


• © Paddy Ryan • 21 de setembro de 1987 •

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