quarta-feira, 27 de setembro de 2000

A boca da noite

A boca da noite se abre
E engole os sonhos dum amor; 
E a dor que resta não encobre 
O chorar de um sofredor. 

 Já não há necessidade 
De sorrir ao ver a dor;
Já não há necessidade
De sonhar com outro amor.

Ouça só a escuridão
Que ri da minha solidão … 

 • © Paddy Ryan • 20 de outubro de 1987 •

Confuso

Joguei no mar a minha dor,
Mas ela não quis afundar;
Gritei bem alto meu amor,
Mas só ouvi um sussurrar.

Num vale árido perdi
Noção do que é saber amar;
Aos altos montes eu subi
Só pra logo despencar.

Em pedras quentes sempre eu ando,
Procurando a minha vida;
Vou correndo e trombando
Sem achar jamais saída.

Joguei no mar a minha dor,
Mas ela insiste em boiar…

 • © Paddy Ryan • 28 de outubro de 1987 •

Totalmente só

Sonho alto, com vontade,
Cada vez com mais pesar.
A vil realidade 
Me obriga a sonhar.

Vejo-a parada, sempre linda
(Nunca vi tanta beleza!).
Está correndo agora, finda
Toda a sua incerteza.

Eu a sigo fielmente,
Como a noite segue o dia;
Num eclipse, loucamente,
Extravaso minha alegria…

E num auge de paixão
Minha dor só come pó;
Mas de repente acordo, e então?
Estou só, totalmente só…


 • © Paddy Ryan • 17 de setembro de 1987 •

Navios ao longe

Navios ao longe me atormentam,
Vagando pelo horizonte;
Navios que eu sinto representam
A água pura duma fonte,
A fonte do amor.
Alucinado, não consigo,
Porém, alcançar estes navios,
Pois a chama vai comigo
Que incendeia mil pavios,
Pavios de morte;
E quando a sorte
Parece me sorrir, e penso
Que alcancei ao menos um navio,
Um estrondo seco e tenso
Estraçalha a mim e ao meu navio…

Navios ao longe me atormentam,
Vagando, vendo a minha lida;
Navios que sempre só me lembram
De quão triste é minha vida,
Vida sem amor… 

 • © Paddy Ryan • 01 de janeiro de 1987 •

Lágrimas

Ah, como é gostoso chorar! Quando a angústia tenta acuar, O coração se derrete em lágrimas Rebeldes, insubordinadas, mas legítimas. E é ...