segunda-feira, 24 de julho de 2017

Lágrimas


Ah, como é gostoso chorar!
Quando a angústia tenta acuar,
O coração se derrete em lágrimas
Rebeldes, insubordinadas, mas legítimas.
E é nessa sinceridade ardente
Que a alma sedada sente
O alívio da sua dor
Pela dor.

Não, é claro, um alívio imediato!
Aliás, na dor, sabe-se por fato
Que a alegria almejada é pequena,
Como quando a chuva cai serena.
Mas é nesse bálsamo regrado
Que a alma sente agrado,
Mais do que na explosão
Da paixão.

Não tento parar essa chuva mansa:
As lágrimas anunciam bonança!
Caiam livremente, diluindo a dor,
Abafem destas chamas o calor;
Lavem os recantos da minh’alma,
E sussurrem brandamente: Calma!


• © Paddy Ryan • 24 de julho de 2017 •

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Ela me entende


O barulho aqui dentro é insuportável;
Uivos, lamentos, gritos de horror,
Tudo o que há de mais deplorável,
Uma mistura louca de ódio e pavor!

Por fora, porém, tudo é paz e alegria:
    O rosto brilhando,
    O sorriso bailando,
    Os olhos cantando...
Uma sensação de harmonia
    Totalmente vazia.
        (Frágil utopia!)

Eu procuro os olhos dela,
Trêmulo, pego a mão dela,
E sem palavras digo a ela
    Tudo que nunca disse a ninguém.
    E esta dor (que não revelo a ninguém)
    Ela sente e reparte, como ninguém.


• © Paddy Ryan • 30 de junho de 2016 •

Um mês após a partida para a glória do meu pai

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Um dia da noite


O Sol, já cansado, estica seus dedos
E toca de leve os picos soberbos
Dizendo adeus aos sonhos do dia ...
E nasce a noite, arisca e esguia.

As sombras se agregam e riem da Lua,
Que vendo-se exposta, fraca, e nua,
Se esconde atrás duma nuvem sombria ...
E reina a noite, soberba e fria.

O Sol, já refeito, e pronto pra guerra,
Espia por cima do canto da Terra
Saudando o mundo com voz de alegria ...
E foge a noite, até outro dia ...


• © Paddy Ryan • 24 de setembro de 1988 •

quinta-feira, 29 de julho de 2010

A chuva

Em cima o cinza esconde o Sol,
Chorando ao vento a sua dor;
E derramado num atol,
O mar suplica por calor.

E a chuva vem…
Não com raiva, nem amor,
Mas como quem
Já é imune a toda dor,
E quer apenas descobrir
(Pra seu prazer)
Se alguém irá se iludir
Com seu poder.

Levemente se apresenta,
Com um ar de insegurança,
E seu choro até sustenta
A ilusão de que é criança.
Mas logo o choro vira pranto,
E a chuva, como um manto,
Cobre a tudo que sorria.
Um raio, tenso, se arrepia,
E fere a Terra orgulhoso,
Enquanto o vento, tenebroso,
Chora e uiva em pavor.

E a escuridão acende a dor…


• © Paddy Ryan • 18 de janeiro de 1990 •

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Sou eu quem mais me assusta

A noite ri do meu temor,
E invoca, em todo o seu horror,
As hostes da fobia injusta;
   Mas sou eu quem mais me assusta ...

Num calabouço vil, sombrio,
Eu ouço o riso, seco e frio,
Desta dor que me reprime;
   Mas sou eu quem mais me oprime ...

Eu chamo as nuvens (que bobagem!)
Pra esconder-me, sem coragem,
Da vergonha que me humilha;
   Mas sou eu quem mais me humilha ...

Sou prisioneiro da Razão
(Também chamada Ilusão),
E nem o Sol aqui me acende;
   Mas sou eu quem mais me prende ...


• © Paddy Ryan • 1995 •

terça-feira, 22 de fevereiro de 2005

Será? (de novo!)

(leia antes "Será")

O frio continua ...
Será que a Natureza, triste, insinua
Que está cansada de chorar?
Será que minha amada, triste, insinua
Que está cansada de amar?

Será que o amor é frio,
   Sem brio,
      Sombrio?

Será que existe esperança?
Será que o frio não se cansa?

Só sei que o amor se perpetua,
Mas o frio ainda continua …


• © Paddy Ryan • 2003 •

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2001

Onde estou?

No meio da noite, em trevas,
Minha alma se agita e canta;
Onde estão meus pesadelos?

No auge do dia ensolarado,
Minha alma se esconde e chora;
Onde estão os meus sorrisos?

Sofrendo e vencendo,
   Chorando e cantando,
      Sou um pobre grão de areia,
   Iluminado pelo Sol
E castigado pelo mar ...

Vencendo e sofrendo,
   Cantando e chorando,
      Qual é a chama que me incendeia?
   Sou queimado pelo Sol
E refrescado pelo mar ...

No meio da vida, confuso,
Minha alma se esperneia, mas calada ...
Onde estão meus pensamentos?


• © Paddy Ryan • 03 de maio de 1994 •

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2001

Pensando

Lá no alto, além das nuvens,
Eu me sento pra pensar.

Penso em coisas já passadas,
   Sepultadas
   Mas amadas.
Penso em dores
   E amores,
Dissabores
   Ou temores.

Penso em tudo, penso em nada,
Penso em não pensar em nada.

Penso em vão
   (E sem razão!),
Penso em mim
   (E no meu fim!).
Penso a vida
   E esqueço a morte,
Penso a lida,
   Fraca ou forte.

Penso em tudo, penso em nada,
Penso até no tudo-ou-nada.

Até que a noite, entediada,
Diz “Adeus!” e vai dormir.
Então minha alma, aliviada,
Fecha os olhos, a sorrir ...


• © Paddy Ryan • 20 de março de 2000 •

Dor e amor

A dor sufoca, agita e inflama,
Cresce e tenta dominar;
Um pesadelo acorda e clama,
Mas quem o pode iluminar?

Perdida num deserto de emoções,
Sozinha, ouça a dor se lamentar ...
E o Sol aquece os corações
Que só pensam em amar ...


• © Paddy Ryan • 30 de maio de 1992 •

terça-feira, 28 de novembro de 2000

Eu vi ...


Eu vi um homem se erguer,
Olhando em volta sem temer.
    E vi meu nome se acender.

Eu vi um homem a sonhar,
A paz dançando em seu olhar.
    E vi meu nome a brilhar.

Mas vi um homem perceber
Que é preciso se conter.
    E vi meu nome escurecer.

Eu vi um homem aceitar
Que o amor não deve dominar.
    E vi meu nome se apagar.

Preciso agora encontrar
O homem que quis afundar;
    Mas não consigo me enxergar.


• © Paddy Ryan • 29 de janeiro de 1989 •

quarta-feira, 27 de setembro de 2000

A boca da noite

A boca da noite se abre
E engole os sonhos dum amor; 
E a dor que resta não encobre 
O chorar de um sofredor. 

 Já não há necessidade 
De sorrir ao ver a dor;
Já não há necessidade
De sonhar com outro amor.

Ouça só a escuridão
Que ri da minha solidão … 

 • © Paddy Ryan • 20 de outubro de 1987 •

Confuso

Joguei no mar a minha dor,
Mas ela não quis afundar;
Gritei bem alto meu amor,
Mas só ouvi um sussurrar.

Num vale árido perdi
Noção do que é saber amar;
Aos altos montes eu subi
Só pra logo despencar.

Em pedras quentes sempre eu ando,
Procurando a minha vida;
Vou correndo e trombando
Sem achar jamais saída.

Joguei no mar a minha dor,
Mas ela insiste em boiar…

 • © Paddy Ryan • 28 de outubro de 1987 •

Totalmente só

Sonho alto, com vontade,
Cada vez com mais pesar.
A vil realidade 
Me obriga a sonhar.

Vejo-a parada, sempre linda
(Nunca vi tanta beleza!).
Está correndo agora, finda
Toda a sua incerteza.

Eu a sigo fielmente,
Como a noite segue o dia;
Num eclipse, loucamente,
Extravaso minha alegria…

E num auge de paixão
Minha dor só come pó;
Mas de repente acordo, e então?
Estou só, totalmente só…


 • © Paddy Ryan • 17 de setembro de 1987 •

Navios ao longe

Navios ao longe me atormentam,
Vagando pelo horizonte;
Navios que eu sinto representam
A água pura duma fonte,
A fonte do amor.
Alucinado, não consigo,
Porém, alcançar estes navios,
Pois a chama vai comigo
Que incendeia mil pavios,
Pavios de morte;
E quando a sorte
Parece me sorrir, e penso
Que alcancei ao menos um navio,
Um estrondo seco e tenso
Estraçalha a mim e ao meu navio…

Navios ao longe me atormentam,
Vagando, vendo a minha lida;
Navios que sempre só me lembram
De quão triste é minha vida,
Vida sem amor… 

 • © Paddy Ryan • 01 de janeiro de 1987 •

segunda-feira, 29 de maio de 2000

Quero ter seu coração

“Não” ao ódio que sufoca,
“Não” ao medo interminável;
Dê-me o prisma que enfoca
A paixão indominável.

Dê-me a luz que cala os loucos,
Subjugando-os sem ferir;
Dê-me o amor que brilha em poucos,
Escondido no porvir.

Quero a paz incontestável,
   Quero os mitos da paixão.
      Mais ainda (se possível)
         Quero ter seu coração.


• © Paddy Ryan • 29 de maio de 1990 •

sábado, 27 de maio de 2000

Será?

Um intenso frio me envolve;
Será que a Natureza nos devolve
Toda a amargura que já recebeu?
    Ou será que apenas eu
         Tenho frio?

Um intenso amor me envolve;
Será que minha amada me devolve
Todo o carinho que já recebeu?
    Ou será que apenas eu
         Tenho amor?


• © Paddy Ryan • 27 de maio de 1987 •

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2000

Alguém te ama

Ó, coração abandonado,
Envolto em trevas e enfado,
As negras nuvens da tua dor
Darão lugar a um lindo amor.

Não há ninguém tão desprezado,
Tão sem amor, tão maltratado,
Que não possua em algum lugar
Um coração que quer lhe amar.

Um coração que também chora,
Que sonha sempre, a toda hora,
Acompanhando a pulsação
Do teu sofrido coração.

E algum dia irão se unir,
E o próprio Sol irá sorrir
Ao ver, de entre tanta dor,
Nascer tão lindo e puro amor.


• © Paddy Ryan • 20 de outubro de 1987 •

Graças a Deus

Tanta coisa me fascina
E alegra o meu viver;
Esta vida me ensina
A sorrir em meu sofrer;
   Agradeço à Deus pela vida.

O amor já me cativa
Transformando o meu viver;
A amargura, tão nociva,
Com um beijo fiz morrer;
   Agradeço à Deus pelo amor.

Tu somente, ó querida,
Me inundas de amor;
Amor da minha vida,
Vida do meu amor,
   Agradeço a Deus por você!


• © Paddy Ryan • 23 de agosto de 1987 •

Cabo!

Sabem da última? Sou Cabo!
Cabo do Exército Brasileiro!
Não tenho certeza se me gabo,
Ou se me lanço inteiro
No poço da auto-piedade.
Agora sou respeitado
Por todos (será verdade?).
Não há nada errado?

Me apertam a mão,
Me dão os parabéns;
Deram um “aumentão”
De uns pobres vinténs;
Só porque mudei de posto?
É tudo encenação;
Sangue e ódio no rosto,
Revolta no coração.


• © Paddy Ryan • 24 de setembro de 1987 •

Só chove em meu coração

Eu sempre quis me apaixonar,
Ser amado e poder amar,
Deixar de vez a solidão ...
Mas só chove em meu coração.

Eu sempre tento esquecer
Dos sonhos que eu vi morrer,
Da falsidade e encenação ...
Mas só chove em meu coração.

Se ao menos eu pudesse ter
A liberdade de escolher;
Mas sou guerreiro da nação,
E só chove em meu coração.


• © Paddy Ryan • 24 de outubro de 1987 •

Não posso chorar

Nas recâmaras da noite
Eu aguardo o dia;
Recebo o vil açoite,
A dor que arrepia,
   Mas não posso chorar.

Sozinho neste sonho,
Fecho os olhos para a paz;
Neste ermo tão medonho,
Ninguém mais é capaz
   De me fazer chorar.

As lágrimas que correm,
Os sonhos que morrem,
As chuvas que cobrem
As almas que sofrem ...
   Nada me faz chorar.

Minhas lágrimas secaram,
Queimadas pelo amor;
Meus lábios calaram,
Escravos da dor;
   E eu não posso chorar.


• © Paddy Ryan • 15 de maio de 1996 •

Homo Sapiens

Eu tampo os olhos da nação,
E acendo a luz que me atacou.
Um gato morde o pobre cão
Que, sem querer, o acordou.
O Sol derrete em minhas mãos,
Mas nem assim quer se apagar;
O Homem mata seus irmãos,
Mas nem por isso quer chorar ...

Mil sentinelas congeladas
Vão ouvir a vã sentença:
A Dor e a Ira, já caladas,
Vão marcar sua presença ....


• © Paddy Ryan • 02 de junho de 1992 •

Saudade

A noite está escura ...
Eu fecho os olhos,
Sinto a dor fria da loucura,
E acordo assustado.
Mas nenhuma mão me segura,
Nenhum olhar me contempla,
Pois minha Flor, linda e pura,
Sonha e sofre no mesmo pesadelo.

A noite está fria,
E eu, sozinho,
Choro de saudades ...


• © Paddy Ryan • 09 de dezembro de 1991 •

Por que as rosas tem espinhos?

Por que as rosas têm espinhos?

   Por que preciso me explicar
   Se nem consigo me entender?
   Por que não posso só amar,
   E esquecer-me de sofrer?
   Por que não posso dar razão
   À voz sutil do coração?

Por que as rosas têm espinhos?


• © Paddy Ryan • 04 de outubro de 1989 •

Prá que sonhar?

Às vezes penso em desistir,
Em aceitar o que há por vir;
Não há razão pra insistir
Se nem me lembro de sorrir.

Havia tempos, eu recordo,
Em que sorria sem motivo;
Mas hoje sonho e sempre acordo;
Sou humildemente altivo.

Pra que sonhar?
Pra que sorrir?
Pra que amar,
Se pressentir
Que somos simplesmente nada,
Uma canção inacabada?


• © Paddy Ryan • 18 de julho de 1989 •

A vaga silhueta da noite

Loucos sonhos me chamando,
Gritos tensos me espantando ...
Meu coração, em chamas,
Duvida que me amas,
Explode, se perde na noite
Temendo o açoite
De um caçador solitário
(Ou de um pobre otário).

Tenho que me controlar ...
Mas como, se ouço o berrar
De ecos perdidos,
A tempos esquecidos,
Que me atingem e lembram
Que os sonhos me espreitam
Na vaga silhueta da noite?

Essa euforia que me domina
É como uma praga sem rima,
Que me engana, confusa,
Se torna difusa,
Se acalma e deita
Enquanto espreita
A vaga silhueta da noite.

Sou o fogo e a brisa,
Sou o altivo que precisa
    De um sincero amor.
Sou o fogo e a brisa,
Sou o fraco que avisa
   Ser um grande sonhador.

Meus sonhos não mais me respeitam.
Os prelúdios tênues do dia espreitam
A vaga silhueta da noite …


• © Paddy Ryan • 11 de junho de 1989 •

terça-feira, 22 de fevereiro de 2000

A Ilusão

Parti em dois meu coração,
Parti o mar da solidão;
Parti sentindo a sensação
De despencar na escuridão ...

E foi em vão.

Voltei, então,
Ouvindo a voz da Ilusão
Que assegurava ter razão,
E prometia uma paixão ...

Foi tudo em vão!

Quem medirá a Ilusão?
   Um lindo sonho num caixão,
      Um grande amor num pobre anão,
      Um pingo d’água num vulcão,
   Um grito ardente de emoção
Vagando solto pela escuridão?

E haverá explicação
   Pra tão concreta Ilusão?
      E o que fizeram da Razão?
         Será que é tudo, sempre, em vão?


• © Paddy Ryan • 27 de maio de 1989 •

Sonhar é preciso

Sonhar é preciso.
Nem sempre é possível sorrir,
Pois a dor que abafa meus sonhos
Me envolve a ponto de eu pressentir
Que os gritos loucos, medonhos,
Que a tempos eu posso ouvir,
Não passam de ecos dos meus sonhos ...

Mas sonhar é preciso,
Mesmo que, quase sempre, meus sonhos se matam
Num meio ponto entre Terra e Céu,
E gestos pequenos, mas infindos, abalam
A confiança deste fraco que sou eu,
Deste ser a quem jamais faltam
Os temores próprios de quem se perdeu.

Sim, sonhar é preciso …


• © Paddy Ryan • 09 de fevereiro de 1989 •

O teu olhar

Eu ouço um grito estremecer
No meio dum terrível mar;
Será que alguém vai perceber
Que a dor engloba cada olhar?

O horizonte é tão imenso,
Mas não suporta o meu chorar;
O meu sorriso, louco e tenso,
Reflete a dor do teu olhar.

Eis aqui meu coração,
Que ainda insiste em sonhar;
Diga-lhe que só a solidão
Entende a dor do teu olhar;
   A dor que irrompe pelo ar,
      Mas não se afasta deste olhar.

A mim,
   enfim,
      o fim…


• © Paddy Ryan • 27 de dezembro de 1988 •

Miragem

Eu vi no meio dum deserto
O caminhar incerto
   Do meu pobre amor.
E caminhava à minha frente
Um desejo demente,
   Fruto do pavor.

Será que nunca irá chover?
Será que nunca irei viver
Os sonhos que eu fiz nascer?

Eu vi também, por todo o lado,
O caminhar ousado
   Duma grande dor.
E caminhava à sua frente
O canto sorridente
   Do seu vil pavor.

Será que sempre irá chover?
Será que sempre irei querer
Os sonhos que eu vi morrer?


• © Paddy Ryan • 02 de novembro de 1988 •

Mar de ilusões

Eu sou navegante,
Um pobre errante
Num mar de ilusões.

Preso nas próprias ciladas que armei,
Penso no brilho do amor que se foi;
Quantas lembranças de sonhos amei ...
Quantas saudades do amor que se foi ...

Eu ouço o choro de alegres canções
Num mar de ilusões;
Eu sinto a dor de mil corações
Num mar,
Um mar de ilusões ...


• © Paddy Ryan • 12 de setembro de 1988 •

Cheiro de medo

O Sol, cansado de nascer
Todo dia, e sempre ver
A mesma coisa, se esconde.
Em algum lugar, não sei onde,
Parece que ouço um berro,
E sinto o cheiro de ferro
Cortando carne, o cheiro
Dum medo louco, altaneiro ...

O Céu, cansado de chorar
O seu desgosto, vai tentar,
Também, se esconder do mundo.
De algum abismo profundo,
Dentre corpos mutilados,
Por séculos conservados
Em sangue, ainda sinto o cheiro
Deste medo louco, altaneiro ...

A Lua, cansada de banhar
Corpos podres com seu brilhar,
Chorando, vai se esconder.
De algum lugar, com vil prazer,
Nadando em sangue (seu e meu),
Querendo o fim (o seu, o meu),
Matando tudo, vem o cheiro
Deste medo louco, altaneiro ...

Por que não posso entender
Este medo? Não quero ter
Que dormir, viver ou sonhar
Com sangue a me atormentar,
Como o orvalho frio,
Como o tenso arrepio
Da morte.

Donde vem este cheiro? Não sei.
Houve um tempo em que pensei
Que soubesse; meu coração,
Uma máquina de solidão,
Criava o medo a meu pedido.
Mas ... meu coração já está perdido
Na morte…


• © Paddy Ryan • 21 de setembro de 1987 •

Só canto na subida

Vou vivendo a minha vida
Sem pensar na dor sofrida;
Vou correndo na descida
E cantando na subida.

Sigo em frente sem parar,
E nem penso em chorar;
Tento, em vão, não tropeçar,
Mas insisto em sonhar.

Sinto o amor da paz querida
Inundando a minha vida;
Não desprezo a dor e a lida,
Mas só canto na subida.


• © Paddy Ryan • 09 de julho de 1988 •

Vivendo a vida ...

Tentar viver
Até morrer
Na imensidão
Da solidão?

Não!

Melhor sorrir
Até sentir
Que mesmo a dor
Produz amor …

Tentar amar
   Sem planejar …
      Poder amar,
         Sem recear …


• © Paddy Ryan • 17 de março de 1988 •

Reter ou soltar?

Explosão,
   Ou implosão?

Explosão,
   Que com razão
      Espalha longe o seu calor,
         E que afasta, sem pesar,
            A amargura, choro e dor,
               Me contagia, me faz amar?

Implosão,
   Que sem razão
      E com sadismo, tão sem fim,
         Só faz meu mundo de amor
            Ruir por terra sobre mim?
               (Nem sei de onde vem a dor…)

   Implosão?
Sou explosão!


• © Paddy Ryan • 28 de agosto de 1987 •

Sonhos

Voa livre, alma minha,
Nunca cesses de sonhar;
Se meu corpo engatinha,
Tu me instigas à voar!

O horizonte me convida,
Até à Lua quero ir;
Toda a vida já vivida
Me impulsiona a subir.

Alto ou baixo, sempre tentas
Loucas coisas descrever;
Penso que só te contentas
Ao poder contradizer.

E eu, confuso, só consigo
Os teus sonhos descrever;
Mas eu penso, cá comigo,
Que um dia irei te entender …


• © Paddy Ryan • 08 de agosto de 1987 •

sábado, 22 de janeiro de 2000

O ninho do amor

Meu coração se arrasta em vão;
Passou-se outra vã paixão.
Será que o ninho do amor
Está cercado pela dor?

Paixões me atacam sem cessar,
Mas não conseguem me levar.
Quem me dera ver qual dor
Esconde o ninho do amor …

Como posso eu lutar
Se o amor não quer me enfrentar?
Paixão, qual é a dor
Que leva ao ninho do amor?

 • © Paddy Ryan • 22 de janeiro de 1990 •

Lágrimas

Ah, como é gostoso chorar! Quando a angústia tenta acuar, O coração se derrete em lágrimas Rebeldes, insubordinadas, mas legítimas. E é ...